"trago fado nos sentidos" HOMENAGEM A AMÁLIA RODRIGUES por mário laginha e bernardo sassetti

"Fado Esmeraldinha (tradicional)" por Mário Laginha e Bernardo Sassetti

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Mário Laginha: Biografia


A sua “casa” é o jazz, mas recusa encerrar-se lá dentro. Na sua música podemos encontrar um pouco de quase tudo, porque não fecha as portas a quase nada. Mário Laginha procura em vários lugares o material para construir o seu próprio universo musical. Gosta de ir buscar influências, ideias, respirações em outras áreas. Muito mais do que misturas, há assimilação. O que se pode ouvir, no final, é... música. A sua carreira de intérprete tem sido onstruída ao lado de outros músicos, de uma forma constante e intensa. E com raras excepções: o primeiro disco a solo, Canções e Fugas, é editado em 2006, e resulta de uma ideia que começou a persegui-lo há mais de dez anos. Mário Laginha usa com virtuosismo e rigor a técnica clássica para compor seis fugas, cada uma antecedida por uma canção na mesma tonalidade, seguindo o esquema dos prelúdios e fugas de Bach. Não há revivalismos: as suas composições têm uma sonoridade contemporânea, muito inspirada, apesar de notoriamente complexa.  Para Mário Laginha, fazer música é sobretudo um acto de partilha. E tem-no feito com personalidades musicais fortes.  O duo privilegiado com a cantora Maria João resulta num dos casos mais consistentes e originais da actual música portuguesa. Mais uma vez, o jazz funciona aqui como uma rede, mas sem amarras: há ecos africanos, brasileiros, indianos, da música tradicional portuguesa, pop, rock, clássico...  



Mas a sua música não é uma síntese de influências. Estas funcionam apenas como ferramentas para compor e interpretar, revelando-se num estilo muito próprio. Ouçam-se os discos Cor (1998), centrado nas músicas do Índico, e 
Chorinho Feliz (2000), sobre os 500 anos do achamento do Brasil, ambos encomendados pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. O primeiro conta com a participação de Wolfgang Muthspiel e Trilok Gurtu, o segundo com Gilberto Gil, Lenine, Armando Marçal, Toninho Ferragutti, Nico Assumpção e o percussionista norueguês Helge Norbakken. Entre um disco e outro, Mário Laginha compôs e arranjou Lobos, Raposas e Coiotes (1999)  para a Orquestra Filarmónica de Hannover, dirigida pelo Maestro Arild Remmereitt.  A parceria de Mário Laginha com Maria João resultou numa dezena de discos. Gravaram o álbum Sol (1991), integrados no grupo Cal Viva; Danças (1993), o único apenas de voz e piano; Fábula (1996), com a participação de Ralph Towner, Manu Katché, Dino Saluzzi, Kai Eckhardt e Ricardo Rocha.


Undercovers (2002) é mais uma prova da “contaminação” musical do duo: um disco de versões que junta canções de autores como Sting, Björk, Caetano Veloso, U2, Tom Waits... Outra é Tralha (2004), um regresso aos originais, com uma sonoridade mais electrónica. Ambos contam com a participação de Mário Delgado, Alexandre Frazão, Yuri Daniel, Miguel Ferreira e Helge Norbakken. Para além dos álbuns, têm integrado alguns dos mais importantes festivais de Jazz do mundo: Festival de Jazz de Montreux, Festival do Mar do Norte, Festival de Jazz de San Sebastian, Festival de Jazz de Montreal...  


Com Bernardo Sassetti é partilhado o mesmo instrumento: uma formação pouco frequente na área do jazz, que ganha com o facto de ambos construírem um universo único, à volta das suas próprias composições. 
Com muito em comum, e também com acentuadas diferenças, conseguem um equilíbrio invulgar, de uma evidente cumplicidade. Juntaram-se pela primeira vez em 1998 e gravaram o disco Mário Laginha e Bernardo Sassetti em 2003. A originalidade musical do duo voltou a revelar-se em Grândolas (2004), uma encomenda para assinalar os 30 anos do 25 de Abril, com versões de temas ligados à revolução. Para além de dezenas de concertos no país e no estrangeiro, os dois foram convidados a tocar com a Sinfonieta de Lisboa, conduzida pelo maestro Vasco Pearce de Azevedo, e Orquestra Clássica da Madeira, dirigida pelo maestro Rui Massena. 
Criou o Trio de Mário Laginha com o contrabaixista Bernardo Moreira e o baterista Alexandre Frazão. Esta é talvez a formação que mais próxima está do jazz, ainda que não com um estilo convencional. Outro pianista entrou para ficar no seu mundo musical. Mas desta vez numa zona onde se move com algumas fronteiras e sem improvisos. Pedro Burmester tem sido a sua principal ponte com a música clássica, desde finais dos anos 80. Juntos gravaram o disco Duetos (1994), e têm feito vários concertos ao vivo. Mário Laginha leva a sua bagagem do jazz para um repertório do século XX – Maurice Ravel, Samuel Barber, Aaron Copland – oferecendo-lhe um forte sentido rítmico. Sem improvisações, porque também sabe ser fiel à partitura.  



A sua sólida formação clássica – fez o Curso Superior de Piano do Conservatório Nacional (terminado com a classificação máxima), onde estudou com Jorge Moyano e Carla Seixas – não se cristalizou num estilo pianístico. Deu-lhe ferramentas para evoluir como intérprete e compositor, desenvolvendo uma identidade própria. É isso que lhe tem permitido escrever para formações tão diversas como a Big Band da Rádio de Hamburgo, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, a Orquestra Filarmónica de Hannover, o Remix Ensemble, o Drumming Grupo de Percussão e a Orquestra Nacional do Porto.  Em 2001 apresentou em estreia mundial a obra para orquestra “Mãos na Pedra Olhos no Céu”, uma encomenda da Porto 2001 Capital Europeia da Cultura, apresentada na cerimónia de abertura oficial. Em 2005 estreou “Até aos Ossos”, peça escrita para o Remix Ensemble e encomendada pela Casa da Música. Com uma grande criatividade, enorme solidez rítmica e uma imensa riqueza harmónica e melódica, Mário Laginha tem estado ao lado, no palco ou em estúdio, de músicos excepcionais, como Wolfgang Muthspiel, Trilok Gurtu, Gilberto Gil, Lenine, Armando Marçal, Ralph Towner, Manu Katché, Dino Saluzzi, Kai Eckhardt, Julian Argüelles, Steve Argüelles, Howard Johnson, Django Bates. 


A sua carreira no jazz leva mais de 20 anos: foi um dos fundadores, em 1984, do Sexteto de Jazz de Lisboa. Escreveu pela primeira vez para uma formação alargada para o Decateto de Mário Laginha (1987), com o qual participou no Festival de Jazz em Agosto, da Fundação Calouste Gulbenkian. A sua personalidade musical era já muito evidente no disco Hoje (1994) – o primeiro que assinou com o seu nome, assumidamente da área do jazz, e que teve a colaboração do saxofonista Jullian Argüelles, o guitarrista Sérgio Pelágio, o contrabaixista Bernardo Moreira e o baterista Alexandre Frazão. 


Foi distinguido em 1990 com os prémios de melhor composição, melhor instrumentista e melhor grupo (referente ao seu quarteto) pelo Concurso de Jazz e Música Improvisada, promovido pela Secretaria de Estado da Juventude. 
Compôs também para algumas curtas-metragens e para o filme “Passagem por Lisboa”, de Eduardo Geada. E escreveu música para teatro: “Estudo para Ricardo III / Um Ensaio sobre o Poder” e Berenice (ambos com encenação de Carlos Pimenta e apresentados no Teatro Nacional D. Maria II). 

Bernardo Sassetti: Biografia



Nasceu em Lisboa em Junho de 1970. Iniciou os seus estudos de piano clássico aos nove anos com a professora Maria Fernanda Costa e, mais tarde, com o professor António Menéres Barbosa, tendo frequentado também a Academia dos Amadores de Música. Dedicou-se ao jazz, estudando com Zé Eduardo, Horace Parlan e Sir Roland Hanna. Em 1987 começa a sua carreira profissional, em concertos e clubes locais, com o quarteto de Carlos Martins e o Moreiras Jazztet; participa em inúmeros festivais com músicos tais como Al Grey, John Stubblefield, Frank Lacy e Andy Sheppard. Desde então, nos primeiros 15 anos de carreira, apresenta-se por todo o mundo ao lado de Art Farmer, Kenny Wheeler, Freddie Hubbard, Paquito D´Rivera, Benny Golson, Curtis Fuller, Eddie Henderson, Charles McPherson, Steve Nelson, integrado na United Nations Orchestra e no quinteto de Guy Barker com o qual gravou o CD INTO THE BLUE (ed. Verve), nomeado para os Mercury Awards 95 – Ten albums of the year. Em Novembro de 1997, também com Guy Barker, gravou WHAT LOVE IS, acompanhado pela London Philarmonic Orchestra e tendo como convidado especial o cantor Sting. 


Como compositor, escreveu as suites ECOS DE ÁFRICA, SONS DO BRASIL, MUNDOS, FRAGMENTS (OF CINEMATIC ILLUSION), ENTROPÉ – para piano e orquestra, 4 MOVIMENTOS SOLTOS – para piano, marimba e orquestra e CONCERTO DINÃMICO – para 2 pianos e orquestra, entre muitas outras peças para pequenas formações. Das gravações editadas em seu nome registam-se as seguintes: SALSETTI (1994); CONRAD HERWIG + TRIO BERNARDO SASSETTI – LIVE (1995); MUNDOS (1996); NOCTURNO (2002, 1º prémio Carlos Paredes); MÁRIO LAGINHA/BERNARDO SASSETTI (2003); ÍNDIGO (2004), LIVRE (2004); GRANDOLAS (2004, em dúo com Mário Laginha); ASCENT (2005, 1º prémio Carlos Paredes); banda sonora do filme ALICE (2005); UNREAL – SIDEWALK CARTOON (2006); banda sonora da peça de teatro DÚVIDA (2007) e 3 PIANOS (2008, CD e DVD, em trio com Mário Laginha e Pedro Burmester). 



Dedica-se regularmente à música para cinema, tendo realizado vários trabalhos nos sete últimos anos e de entre os quais se destaca a sua participação no filme THE TALENTED MR. RIPLEY (prod. Paramount/Miramax), de Anthony Minguella. Para este projecto gravou My Funny Valentine com o actor Matt Damon, entre outros temas. Em parceria com Guy Barker, compôs igualmente uma série de temas para serem apresentados nas premiéres oficiais deste filme, realizadas em Los Angeles, Nova Iorque, Chicago, Berlim, Paris Londres e Roma.  Os seus mais importantes trabalhos de composição para cinema são os seguintes: MARIA DO MAR de Leitão Barros, FACAS E ANJOS de Eduardo Guedes, QUARESMA de José Álvaro Morais, O MILAGRE SEGUNDO SALOMÉ de Mário Barroso, A COSTA DOS MURMÚRIOS de Margarida Cardoso, ALICE de Marco Martins, 98 OCTANAS de Fernando Lopes, o documentário NOITE EM BRANCO de Olivier Blanc e as curta-metragem AS TERÇAS DA BAILARINA GORDA de Jeanne Waltz e ANTES DE AMANHÂ de Gonçalo Galvão Teles. Como solista, participou também no filme PAX de Eduardo Guedes e na curta-metragem BLOODCOUNT de Bernard McLoughlan. 
As bandas sonoras de A COSTA DOS MURMÚRIOS e ALICE foram distinguidas com o troféu internacional Cineport  para melhor banda sonora original. Para Teatro, compôs a música de A CASA DE BERNARDA ALBA (encenação de Diogo Infante e Ana Luísa Guimarães), FREI LUÍS DE SOUZA – Uma Leitura Encenada por Ricardo Pais e DÚVIDA (encenação de Ana Luísa Guimarães), editado recentemente em CD. 
  

Como concertista, no tempo presente, apresenta-se em piano solo, em trio com Carlos Barretto e Alexandre Frazão, em duo com o pianista Mário Laginha ou em trio de pianos com Mário Laginha e Pedro Burmester. Faz parte do grupo internacional Art Impressions, no espectáculo SHUBERTIADE (estreado em Espanha, em Julho de 2007), sob a direcção artística de Maria João Pires. 

De entre muitos discos gravados (como solista, acompanhador e compositor) podem destacar-se os seguintes: Orquestra Cubana Sierra Maestra - DUNDUNBANZA e TIBIRI TABARA; Carlos Barreto – IMPRESSÕES e OLHAR; Carlos Martins – PASSAGEM e DO OUTRO LADO; Luís Represas - CUMPLICIDADES; Carlos do Carmo – AO VIVO NO COLISEU; Guy Barker – INTO THE BLUE, TIMESWING, WHAT LOVE IS e SOUNDTRACK; Perico Sambeat – PERICO; Guillermo McGill – CIELO e ORACIÓN; Rui Veloso – A ESPUMA DAS CANÇÕES; Tetvocal – DESAFINADOS; Djurumani - REENCONTRO e Andy Hamilton – JAMAICA BY NIGHT, entre muitos outros.  

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A voz e o fado de Amália Rodrigues segundo Mário Laginha e Bernardo Sassetti

“Trago fado nos sentidos”, concerto para dois pianos 

O que se pode esperar de uma homenagem a Amália Rodrigues concebida e protagonizada por Mário Laginha e Bernardo Sassetti? Os dois pianistas e compositores conhecem-se e tocam juntos há mais de uma década, e estão habitualmente conotados com o mundo do jazz. Mas as suas carreiras têm-se construído muito para além dos códigos e sonoridades jazzísticas, incorporando influências clássicas e dos universos da pop, da música popular portuguesa, africana ou latino-americana.

Quando a Casa da Música os desafiou para conceberem uma homenagem a Amália Rodrigues, no décimo aniversário do seu desaparecimento físico, Mário Laginha e Bernardo Sassetti aceitaram com entusiasmo mergulhar a fundo no legado de uma das vozes mais retintamente portuguesas de sempre. Amália não é apenas uma grande intérprete do fado; é, sobretudo, uma alma profundamente portuguesa, no modo como sente e dá voz a uma fórmula musical que espelha intensamente o “sentir português”. Da herança de Amália, os dois pianistas valorizaram sobretudo a que teve como protagonista o compositor e pianista Alain Oulman, responsável por alguns dos mais sublimes temas cantados pela fadista, quase sempre associados a letras de elevada
qualidade literária.


A homenagem a Amália dos dois pianistas tem tudo para ser marcante: em primeiro lugar, a cumplicidade e o perfeito  entendimento musical entre os dois músicos, com dezenas de concertos a dois pianos já realizados; depois, uma experiência muito bem conseguida, ocorrida em 2004, de releitura da obra de ou outro grande intérprete e criador da música da música portuguesa, José Afonso, de que resultou a gravação de “Grândolas” e inúmeros concertos memoráveis; e, finalmente, o desafio aliciante de reler e “misturar” alguns grandes fados amalianos com registos aparentemente tão díspares como o jazz e o improviso a ele associado, a que se somam temas compostos pelos dois músicos sob “inspiração” da música de Amália Rodrigues.

domingo, 11 de outubro de 2009

"trago fado nos sentidos"




Estamos de volta após o grande concerto de Retrospect Ensemble. Apesar deste hiatus aqui na Música Pelo Jardim não estivemos a descansar; temos estado a planear e a preparar os próximos eventos para lhe trazer e dar continuidade há campanha de reabilitação do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa. Assim sendo, é com enorme prazer que anuncio o próximo grande concerto organizado pela nossa iniciativa:






Este reencontro único terá lugar na aula magna na terça-feira, dia 3 de Novembro pelas 21 horas.


Agradecemos o apoio que nos têm dado e esperamos que continue a apoiar, tal como nós continuaremos a trabalhar para lhe trazer os melhores eventos.


Até breve.


quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A história por detrás de "Water Music" de Händel


Antes da Water Music (HWV 348/349/350) de Händel ser apresentada no rio Tamisa em 18 de Julho de 1717, na realidade já existia uma tradição de utilização de música em diversas ocasiões no rio. O Tamisa era um elemento fulcral para a cidade de Londres, sendo uma via essencial de transporte tanto de mercadorias como de pessoas. Uma das cerimónias mais importantes, realizando-se desde o séc. XV que utilizava o rio como palco, era a procissão anual que fazia parte das festividades de inauguração do mandato do Lord Mayor de Londres. Além desta cerimónia, os desfiles aquáticos eram realizados para celebrações de cariz político, como coroações, aniversários reais e recepção de embaixadores e outros monarcas. 


A música era parte integrante destas cerimónias, sendo dirigida não só aos participantes mas também aos espectadores que se encontravam ao longo do rio, sendo essencialmente de carácter instrumental, utilizando instrumentos de percussão e sopros (trompetes, sacabuxas, cornetos, oboés, flautas), de certeza devido às possibilidades sonoras desses instrumentos em eventos ao ar livre, o que explica o uso mais esporádico de instrumentos de cordas. 


O Aqua Triumphalis, sendo um dos eventos reais mais importante no séc. XVII que utilizou o Tamisa, realizou-se em 23 Agosto de 1662 para celebrar a primeira ida da rainha Catarina de Bragança a Londres. Devido ao Inverno rigoroso de 1683-4, provocando o congelamento do Tamisa, houve a possibilidade de se fazer uma feira literalmente no meio do rio, havendo até um espaço específico para bailes e música. A Water Music de Händel insere-se assim neste contexto de eventos públicos recorrentes no rio Tamisa.


Existe um mito em relação à origem desta obra. Esse mito, desenvolvido pelos primeiros biógrafos de Händel e perpetuado ainda hoje, afirma que a encomenda da Water Music tinha sido feita por um nobre da corte do primeiro rei em Inglaterra da casa de Hanover, Jorge I, para efeitos de reconciliação entre o rei e o compositor. Este facto sucedeu devido ao o rei ter ficado bastante desagradado com Händel por este ter «trocado» o posto de maestro de capela na cidade alemã em favor da capital inglesa antes da subida ao trono de Jorge I. Na realidade, na altura da realização da Water Music, as relações entre ambos estavam já normalizadas e o rei demonstrava ter em grande apreço a música de Händel, de tal forma que nesse dia mandou repetir por duas vezes a obra. A barca onde estavam os instrumentistas encontrava-se ao lado da barca real e, segundo um relato, tinha 50 músicos no total, entre trompetes, trompas, oboés, fagotes, flautas e cordas. 


Pela análise da publicação em 1733 desta peça, parece que ela foi composta por uma amálgama de andamentos utilizados em diferentes ocasiões, onde se pode definir 3 suites, sendo duas delas (a suite em Fá maior e Ré maior) passíveis de serem as tocadas durante o evento que decorreu no Tamisa em 1717. 


A obra seguinte de Händel, também uma suite, Musick for the Royal Fireworks, foi concebida para a celebração, por ordem real, do tratado de paz assinado em Aix-la-Chapelle (Outubro de 1848) que colocou fim à Guerra da Sucessão Austríaca. Aliás, a música de Händel já tinha sido utilizada anteriormente para diversos espectáculos com fogo-de-artifício. Durante os festejos, a serem realizados no Green Park a 27 de Abril de 1849,  haveria além da música, a realização de um impressionante espectáculo de fogo-de-artifício. Händel dirigiu um ensaio geral uns dias antes nos Vauxhall Gardens (onde tinha sido ignaurada uma estátua  com o seu retrato em 1738, de Louis-François Roubillac), ensaio esse assistido por 12000(!) pessoas, provocando um engarrafamento de 3 horas na Ponte de Londres. 


No dia do espectáculo colocaram-se pequenas peças de artilharia por baixo do palco onde estariam os músicos, com o propósito de serem disparadas durante o concerto. Devido à humidade intensa que se sentiu nesse dia, o prometido lançamento grandioso do fogo-de-artifício saldou-se num fiasco completo. Resultado humilhante para o rei, sendo a música de Händel aliás, o que salvou o restante do seu prestígio. Na realidade, o rei tinha consciência desse facto e, quando Händel deu um concerto de beneficiência com a música do Royal Fireworks no mês seguinte, o soberano contribuiu com uma soma considerável. Nestas duas peças Händel demonstra a sua perícia na composição de música para eventos realizados ao ar livre, um esquema harmónico adequado, melodias simples mas com um âmbito  alargado e a utilização generosa de instrumentos de sopro (tanto madeiras como metais) e, mais ocasionalmente, de percussão.


A utilização da suite nas peças orquestrais era na altura uma característica recorrente. Este género musical tinha como função o entretenimento do público, sendo o seu nível artístico determinado pelas regras da etiqueta e gosto da classe aristocrática. Em França as suites eram realizadas para serem incorporadas numa coreografia. No espaço germânico, as suites eram criadas principalmente para a sua execução num concerto, em que o seu carácter coreográfico era quase inexistente, estando o carácter das danças altamente estilizado. Esta função mais próxima de um concerto público levou à inclusão gradual de andamentos na suite, sem serem de dança, a abertura deixou de ser apenas uma introdução e gradualmente autonomizou-se da suite, e introduziu-se a utilização de instrumentos solistas em estilo concertante.  Podemos enquadrar então neste último tipo de suite não só as peças de Händel, mas também a obra seguinte, a Wassermusik «Hamburger Ebb und Flut’» de Telemann. As ligações entre Händel e Telemann não se restringem a este facto. Na realidade, Händel conhecia muito bem a música de Telemann, sendo um dos subscritores da Musique de table deste último. Na realidade Telemann era um compositor que gozava de alguma projecção internacional, sendo conhecido na maioria dos países europeus.


 A 10 de Julho de 1721 Telemann tornou-se Kantor da Johanneum Lateinschule e director musical das 5 principais igrejas de Hamburgo. Este período tornou-se o mais prolífico da sua carreira, visto que tinha de fornecer música para diversas finalidades na cidade alemã, tanto de carácter sacro como para cerimónias seculares. Será nesta última situação que ele compôs a Wassermusik. Em 1722 ele assumiu a direcção do teatro Gänsemarktoper, onde dirigiu não só as suas óperas mas também algumas de Händel, entre outros compositores.


Esta suite foi realizada pela primeira vez a 6 de Agosto de 1723, para comemorar a Festa do Almirantado de Hamburgo. Cada uma das danças tem um título em que refere elementos mitológicos marítimos, agrupando assim de forma curiosa a mitologia com a metereologia (na Giga o movimento lembra a sucessão das marés). O último andamento (Canarie) é uma canção de marinheiros, talvez sugerida por uma canção real, visto que o compositor admite a influência da música tradicional em algumas das suas obras. Esta suite bastante pictórica utiliza uma grande orquestra de cordas, continuo e sopros (metais e madeiras) e os contrastes utilizados demonstram a sua capacidade imaginativa de orquestração. 
Texto de autoria de Rui Araújo.

Retrospect Ensemble: Biografia

"...interpretações vibrantes, expressivas e absolutamente convincentes das obras-primas cosmopolitas de Purcell... Que venha o segundo disco!" - The Strad 


Em Maio de 2009 assistimos ao lançamento do muito esperado Retrospect Ensemble. Dirigido por Matthew Halls, o Retrospect Ensemble embarca numa nova jornada com os seus músicos e o público, explorando repertório de quatro séculos e abraçando práticas, estilos e estéticas de outras épocas com um vigor renovado e uma fresca abordagem. Após o sucesso da sua actuação de estreia, interpretando a obra Jephtha de Haendel, na noite de abertura do Festival de Norfolk e Norwich 2009, o Retrospect Ensemble já se pode orgulhar de incluir na sua agenda uma temporada de concertos no Wigmore Hall, para além de várias datas em prestigiados festivais em todo o Reino Unido e tournées no estrangeiro. A seguir ao seu concerto de estreia no Festival de Norfolk e Norwich – um festival com uma larga reputação em repertório litúrgico de Haendel – os compromissos do Ensemble incluem um concerto de cantatas de Bach no Edinburgh International Festival com Carolyn Sampson, a sua estreia no Dresden Musikfestspiele e tournées na Coreia, Israel, Portugal e Suíça. A chegada do Retrospect Ensemble tem sido calorosamente acolhida pelo público, pelo que o grupo já tem agendada uma série de concertos no Wigmore Hall, que constituirá o eixo central da sua temporada no Reino Unido. Durante a primeira temporada no Wigmore Hall, o ensemble fará várias apresentações da obra Apollo e Dafne de Haendel, um programa de cantatas de Bach com Robin Blaze e uma interpretação da obra Fairy Queen de Purcell, com a introdução do Programa Jovens Artistas  (Young Artist Programme).  


A escolha do nome “Retrospect Ensemble” traduz o facto de que o grupo não se limita a um período histórico preciso nem a uma configuração rígida - uma abordagem típica dos enérgicos e inquisitivos músicos do ensemble. A flexibilidade e versatilidade do ensemble resulta do seu desejo de tocar sob diferentes formas - como ensemble de câmara ou orquestra sinfónica, com ou sem coro e apresentando repertório instrumental ou a cappella. Foi esta sua versatilidade inerente que levou à formação do Retrospect Trio, no qual o Director Artístico Matthew Halls é acompanhado por três dos mais importantes instrumentistas de época da Europa: Matthew Truscott, Sophie Gent e Jonathan Manson.  

Na sequência do aclamado lançamento da sua gravação, de estreia mundial, da obra Parnasso in Festa de Haendel pela Hyperion Records, o ensemble aderiu recentemente ao selo Linn Records, com o qual tem interessantes planos para as próximas temporadas. A colaboração do ensemble com a Linn Records já resultou no primeiro de um conjunto de dois CDs pelo Retrospect Trio, marcando o aniversário de Purcell em 2009, com uma gravação das suas Sonatas em Trio. 


“…a nova gravação da Hyperion enche de orgulho o criativo e colorido selo. 
Matthew Halls dirige a sua orquestra perita e um coro de jovem sonoridade com um 
ritmo e um tempo firmes, e muito espaço nas peças contemplativas…”                                           
                                                                                - Daily Telegraph, CD da Semana


Clique aqui para visitar a página oficial de Retrospect Ensemble ou aqui para visitar o seu espaço no myspace e ouvir algumas músicas.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Jardim Botânico: Museu Nacional de história natural, Universidade de Lisboa

O Jardim Botânico da Universidade de lisboa é um jardim científico, projectado em meados do Século XIX. Começado a plantar em 1873, por iniciativa dos professores Conde de ficalho e andrade Corvo, acabou por ser inaugurado em 1878. Foi desde logo considerado um moderno e útil complemento para o ensino e investigação botânicas na Escola Politécnica, escola símbolo dos novos rumos de progresso social e científico que a revolução liberal trouxe a portugal.


O local escolhido no Monte Olivete para a implantação do novo jardim tinha já mais de dois séculos de tradição no estudo da Botânica, iniciado desde o colégio jesuíta da Cotovia aqui sediado, com o seu horto Botânico. 



A enorme diversidade de plantas recolhidas pelos seus primeiros jardineiros, o alemão E. Goeze e o francês J. daveau, provenientes dos quatro cantos do mundo em que havia territórios sob soberania portuguesa, patenteava a importância da potência colonial que portugal então representava, mas que na Europa não passava de uma nação pequena e marginal.


A elevada qualidade do projecto, bem ajustado ao sítio e ao amenoclima de Lisboa, cedo foi comprovada. Mal acabadas de plantar, segundo o caprichoso desenho das veredas, canteiros e socalcos, interligados por lagos e cascatas, as jovens plantas rapidamente prosperavam, ocupando todo o espaço e deixando logo adivinhar como, com o tempo, a cidade viria a ganhar o seu mais aprazível espaço verde e o de maior interesse cénico e botânico. Em pleno coração de Lisboa e em forte contraste com o seu bulício, as cores e as sombras, os cheiros e os sons do Jardim Botânico dão recolhimento e deleite. E, tratando-se de um jardim botânico, outras funções desempenha o Jardim, que não apenas as de lazer e recreio passivo.



As colecções sistemáticas servem vários ramos da investigação botânica, demonstram junto do público e das escolas a grande diversidade de formas vegetais e múltiplos processos ecológicos, ao mesmo tempo que representam um meio importante e efectivo na conservação de plantas ameaçadas de extinção.


Algumas colecções merecem menção especial. a notável diversidade de palmeiras, vindas de todos os continentes, confere inesperado cunho tropical a diversas localizações do Jardim. as cicadáceas são um dos ex-libris do Jardim. autênticos fósseis vivos, representam floras antigas, que na maioria se extinguiram. hoje, são todas de grande raridade, havendo certas espécies que só em jardins botânicos se conservam. o Jardim é particularmente rico em espécies tropicais originárias da nova Zelândia, austrália, China, Japão e américa do Sul, o que atesta a amenidade do clima de Lisboa e as peculiaridades dos microclimas criados neste Jardim.




CHEGOU A ALTURA DE VER O JARDIM BOTÂNICO RENASCER.
NECESSITAMOS DO SEU APOIO.